m meio às rápidas mudanças climáticas e aos recordes de calor dos últimos anos, estudos apontam que o bioma amazônico está mudando seu ritmo de vida. Mas, esses eventos climáticos extremos estão alterando os ciclos de floração e frutificação das árvores amazônicas? Algumas espécies podem ser mais vulneráveis às mudanças climáticas? Essas são algumas das perguntas que guiaram a apresentação da pesquisadora Izabela Aleixo, durante os “Seminários da Amazônia”, promovidos pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI).
Com a participação de dezenas de estudantes e cientistas, Izabela detalhou como o monitoramento fenológico de longo prazo está revelando padrões inéditos sobre a vida das árvores amazônicas e suas respostas a esses eventos climáticos.
O que cinco décadas de pesquisa revelaram sobre a Amazônia?
Um dos destaques da palestra foi o conjunto de dados obtido ao longo de quatro décadas de monitoramento do Piquiá (Caryocar villosum), em conjunto com outras 200 espécies florestais, realizada na Reserva Florestal Adolpho Ducke, em Manaus e, também, na Estação Experimental de Silvicultura Tropical, situada no Km 927, da BR-174. Ambas são áreas protegidas destinadas ao estudo ecológico de demonstração do sistema de manejo florestal, fundamentais para produção de sementes e recuperação de áreas degradadas na região.
Conforme a pesquisadora do Inpa, com base nos dados fenológicos de longo prazo, como o caso dessa espécie de Piquiá, já é possível identificar mudanças nos padrões reprodutivos em diferentes espécies. “Como a reprodução naturalmente é um evento fenológico irregular para a maioria das árvores, identificar esses padrões é um desafio bem complexo. Entretanto, vemos que, quando há mais chuva e eventos globais como a La Niña, há um atraso na floração e, também, uma maior duração da frutificação”, explicou.
“Já em anos que foram muito quentes, houve uma redução da duração da frutificação. Durante eventos extremos, a maior resposta da floresta foi em termos de aumento da mortalidade, que chegou a ser 2,5 vezes maior que a média de 50 anos, ou seja, mais que o dobro de árvores morreram nesses períodos”, detalhou a pesquisadora.
Quais espécies sofrem mais? Quais são mais resilientes?
A Amazônia abriga milhares de espécies arbóreas e essa grande variabilidade fenológica, indica que algumas podem ser mais vulneráveis às mudanças climáticas. A pesquisadora, apresentou dados que mostram que essa variabilidade tem consequências diretas para a dinâmica do carbono, da água e para os serviços ecossistêmicos, o que pode trazer consequências para a funcionalidade da floresta.
“Por exemplo, espécies de madeira mais densa que estocam mais carbono na sua biomassa tendem a crescer mais devagar, ter menor frequência reprodutiva e maior duração da frutificação. Além disso, há uma mortalidade diferencial entre essas espécies, especialmente relacionada a eventos climáticos extremos”, apontou.
“No ano de 2005, as árvores que nunca ficaram naturalmente desfolhadas como parte da sua estratégia de vida, tiveram uma mortalidade 18 vezes maior que aquelas que perdem as folhas por um certo período do ano, como as Seringueiras ou as Sumaúmas”, completou a pesquisadora do Inpa.
AmazonFACE: olhando para o futuro da floresta
Outro ponto importante da apresentação foi o projeto AmazonFACE, parceria entre os governos do Brasil e do Reino Unido, com coordenação científica do Inpa, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e do Met Office (Reino Unido). Na prática, o projeto simula níveis futuros de CO₂ para avaliar como a floresta poderá se comportar em cenários de emissões elevadas.
Nesta perspectiva, a pesquisadora afirma que esses dados são essenciais para criar modelos mais precisos sobre o funcionamento da floresta em um mundo mais quente e com mais gases de efeito estufa.









