Em um esforço conjunto para fortalecer a conservação da biodiversidade no Amazonas, as comunidades Nova Geração e São Sebastião do Igapó-Açu devolveram 4.922 tracajás (Podocnemis unifilis) para o rio Igapó-Açu, que batiza a Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) da região, gerida pela Secretaria de Estado do Meio Ambiente (Sema).
O trabalho de monitoramento de quelônios em todas as comunidades das Unidades de Conservação é feito com o apoio de seus moradores. Segundo Osvaldo Assunção, conhecido como “seu Preto” e morador da comunidade Nova Geração há 55 anos, o monitoramento de quelônios é um trabalho feito por vontade própria. “Porque eu moro no lugar e quero ver o lugar sempre bem”, comentou.
Como liderança antiga, seu Preto vê em si mesmo o aprendizado deixado pelas instituições e gestão da Reserva. Com os projetos de preservação, capacitação e mobilização, ele entendeu que o monitoramento de quelônios contribui para a preservação da espécie, e também para o equilíbrio ecológico da região.
“A terra eu respeito muito, sim senhor. Eu não mato anta, não mato porco, não como tracajá, eu crio porque eu gosto, para preservar para os meus filhos, netos e tataranetos, que ainda não tenho, mas bisneto eu já tenho. É para eles, para eles conhecerem no futuro, é por isso que a gente trabalha”, declarou.
História de sucesso
“Tem bilionário que não tem esse prazer que nós estamos tendo hoje. A natureza aqui com a gente, aprendemos a retirar, mas também temos que aprender a devolver. Esse projeto vai muito longe”, disse o morador da comunidade São Sebastião do Igapó-Açu, Adilson Barreto. Ele foi um dos primeiros a desenvolver o projeto de monitoramento no local, acompanhando todas as coletas ao longo de 15 anos.
“Aqui tiravam muito ovo, tinha a caça dos bichos adultos, mas o ovo era o mais perseguido. Agora com o nosso projeto, desovam muitos ovos aqui nas praias pela frente da comunidade, e anos antes você não via nenhum”, contou.
A capacitação e acompanhamento do trabalho é feita pelo Projeto Pé-de-Pincha, da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), em parceria com o Instituto Claro e apoio da Sema Amazonas. Adilson conta que, do início do projeto até hoje, houve um grande aumento da população de quelônios por conta do manejo sustentável realizado da forma correta.
“Para baixo do rio, a população aumentou demais nesses 15 anos. A gente agradece muito a Ufam, que foi a nossa cabeça de águia, e também a nossa antiga gestora da Reserva, deu muita força pra nós. O Projeto Pé-de-Pincha trouxe muito conhecimento para nós, a Sema também trouxe muitos estudiosos”, afirmou.
Esforço coletivo
Olendina França esteve presente desde o início da implementação do projeto, mas assumiu o título de “mãe dos quelônios de São Sebastião” em 2016. Hoje, quase dez anos depois, já conhece o passo a passo da coleta até a soltura, ensinado pelos pesquisadores e técnicos ambientais que trabalham na Reserva.