A Robusta Amazônica, variedade de café desenvolvida especialmente para a região amazônica, nos anos 1970, com pesquisas e apoio da Embrapa e outros centros de estudo, tornou-se um exemplo de sucesso em produtividade, baixo uso da terra, lucro para os agricultores e eficiente capacidade de captura de emissões de gás carbônico. Rondônia é espaço desse desenvolvimento, conforme revelado por estudo realizado pela Embrapa.
O caso do café em Rondônia pode servir de exemplo para os debates sobre desenvolvimento sustentável que serão realizados na COP 30, em Belém (PA).
O levantamento da Embrapa mostra um panorama positivo e bastante promissor da cafeicultura das Matas de Rondônia, região do estado que se destacou na última década na produção dos robustas amazônicos, espécie desenvolvida para a região, com mistura de outras variedades, e que também recebeu manejo e insumos próprios. O raio-x da principal região produtora do estado mostrou que lá o café se concentra em pequenas propriedades, com grau de tecnificação elevado, alta produtividade, sustentabilidade ambiental e boa margem de lucro.
O Perfil socioeconômico e produtivo dos cafeicultores da região das Matas de Rondônia abrangeu os 15 municípios formadores da região das Matas de Rondônia. Responsáveis por 75% da produção rondoniense de café robusta, esses municípios obtiveram, em 2021, o registro de Indicação Geográfica do tipo denominação de origem para o grão produzido na região.
No estado como um todo, o trabalho identificou um dado impressionante: a área de cafezais em produção encolheu de 245 mil hectares, em 2001, para apenas 60,6 mil hectares, em 2023. No entanto, a produtividade saltou de 7,8 para 50,2 sacas por hectare no mesmo período, um efeito chamado de poupa-terra.
Resumo
• Produtividade média de canéforas no estado alcança 68,5 sacas de 60 kg por hectare, contra 50,4 sacas/ha da média nacional.
• 90% da produção rondoniense é concentrada em pequenas propriedades familiares de 28 hectares e lavouras de 3,4 ha, em média.
• Faturamento médio por propriedade aumentou 38% entre 2021 e 2023.
• Grande maioria das lavouras é tecnificada: irrigação alcança 98,7% da área total plantada e 97.7% dos produtores têm acesso à internet.
• Efeito poupa terra foi impressionante no estado: em 22 anos, área em produção encolheu 75% enquanto produção saltou 550%, de 7,8 para 50 sacas por hectare.
Baseando-se em um questionário, aplicado com a ajuda do Serviço de Apoio à Micro e Pequena Empresa do estado (Sebrae-RO ), além de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e informações coletadas por satélite, o estudo foi realizado no âmbito do projeto CarbCafé, coordenado pela Embrapa Territorial (SP).
“Um dos registros mais positivos foi a boa rentabilidade do Robusta Amazônico”, relata Calixto Rosa Neto , analista da Embrapa Rondônia que assina o estudo. “Uma saca de 60kg tem um custo de R$ 618,00 reais e é vendida a cerca de R$1.300,00, uma margem que tem ajudado a melhorar a vida de muitos produtores”, frisa. Importante efeito disso é a fixação dos jovens no campo, o que foi comprovado pela queda da idade média do cafeicultor que, em 15 anos, passou de 53 para 47 anos.
O impacto social é mais impressionante quando se constata que a imensa maioria dos cafeicultores da região possuem pequenas propriedades, principalmente familiares. São fazendas de até 28,6 hectares, em média, e com cafezais que ocupam cerca de 3,4 hectares. “São mais de sete mil produtores no estado, o que ajuda a promover um amplo desenvolvimento social”, declara Rosa Neto.
“Um ponto positivo encontrado foi o tempo de espera para comercializar a safra. A grande maioria espera por melhores preços. Isso reflete uma certa maturidade econômica dos cafeicultores. Sinal que não estão endividados ou em desespero econômico”, explica o pesquisador Enrique Alves , que também assina o documento.
A atividade tem forte participação no PIB agrícola dos 15 municípios. O estudo retrata que a participação do Valor Bruto da Produção (VBP) do café em relação ao VBP agrícola total da região, verifica-se que ela é de 63,6%, na média, evidenciando a importância da cafeicultura no contexto socioeconômico desses municípios.
Conheça a história do robusta amazônica
Bom nível de tecnificação nos cafezais
Com mais dinheiro é possível reinvestir em tecnologia, que por sua vez aumenta a produtividade e a sustentabilidade, impulsionando o faturamento. Esse ciclo virtuoso também foi observado pelos pesquisadores. “Encontramos mais de 200 máquinas colhedoras no campo. A demanda é tanta que descobrimos uma empresa de aluguel de colhedoras de café semi-mecanizadas, algo que não existia na região”, conta Neto apontando esse como um dos sinais de que a cadeia produtiva está crescendo e se consolidando.
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Além da mecanização da colheita, o levantamento encontrou outras práticas importantes que indicam bons níveis tecnológicos na lavoura. Manejos específicos de solos e plantas, a prática da fertirrigação (adubos adicionados à água), a adubação correta e as podas executadas nos períodos recomendados são indicadores de uso de conhecimentos, ferramentas e insumos atualizados. A adoção tecnológica começou há mais de dez anos com o plantio de cafeeiros clonais desenvolvidos especialmente para a região, híbridos de robusta e conilon.









